Pela primeira vez desde o início do projeto, a Jamaica Paulistana se dividiu para cobrir diferentes eventos na cidade. No sábado (24), não sabendo da ótima surpresa que teria na Oktobercásper, Nathalie foi só para curtir, mesmo, e sem querer acabou conferindo mais uma banda que manda bem no ska em São Paulo.
Confira a resenha.
Enquanto isso, eu, Juliana (a outra moça do blog), me dirigia até o bairro da Vila Nova Cachoeirinha, na zona norte, para um bate papo com Daniel Flores, tecladista da banda argentina
Satelite Kingston, sobre o livro de sua autoria
La Manera Correcta de Gritar: Ska, 2 tone y rude boys em la Argentina, escrito sobre e com a ajuda daqueles que assistiram e protagonizaram a cena ska em Buenos Aires desde o final da década de 1960 até os dias de hoje.
Bruno Kaskata, criador da gravadora
Radiola Records, fazia a tradução simultânea para a meia dúzia de gatos pingados que compareceram no
Centro Cultural da Juventude. Ok, pra ser mais justa, sete gatos pingados. O que foi uma pena, já que o repertório parecia realmente interessante. Fazendo um paralelo com o Brasil, Kaskata explicou que por aqui a cena nunca foi muito forte. Desde os tempos da Jovem Guarda, algumas canções e até mesmo versões de ska foram gravadas, mas nenhuma banda assumia o ritmo completamente.
Já éramos ao todo doze gatos pingados, mas o papo precisou acabar. O SK ainda precisava passar o som para o show que faria ali mesmo, às 20h. Mas, como já estava nos meus planos ver o show no
Inferno Club, não fiquei para conferir.
A entrada na então casa noturna aconteceu por volta da uma da manhã, e na fila eu já reconhecia algumas personalidades da cena jamaicana de São Paulo. Felipe Pipeta fazia o trabalho de divulgador da
OBMJ, entregando flyers
[aliás, imperdível: dia 29 é o último show deles no Bleecker St.] para a galera que esperava para entrar no Inferno, e Sérgio Soffiatti fazia um esquenta ali na porta numa roda de amigos.
A casa já estava lotada, e o som variava com batidas de black, funk e rock. Depois de uma passadinha no banheiro, eu tentava tirar com outra moça amiga (que não é do blog) algumas fotos para a posteridade, sem sucesso. A configuração da máquina não estava ajudando. Eis que surge uma figura simpática perguntando em espanhol se poderia fazer a foto. Posamos, clic, “e aí, ficou boa?”. Mais ou menos, respondeu com um sinal. Sinceridade é tudo. Bora tirar outra, então. Ah, essa ficou melhor. Perguntei se ele era da banda, ao que ele confirmou. Ok, gracias, besito.
Em seguida, o show de abertura começou. Os meninos do
Radio Ska levantaram a galera tocando covers de Bad Manners, The Clash e The Specials, além das próprias composições. O público dançava conforme o ritmo, misturando elementos do reggae, hard core e punk rock.
Radio Ska - Daniel (baixo), Alan (vocal) e Diego (trompete)
Quando o show acabou,
Thiago DJ assumiu a pick up com sua sempre boss selection: Jimmy Cliff, Michael Jackson e, novamente, a música da lambada. Show!
Mas é sempre impossível agradar gregos e troianos. Ou, no caso, jamaicanos e japoneses. Um representante asiático se dirige até a mesa de som com os dedos médios levantados, reclamando com o DJ, e balançando os braços do jeito que a OBMJ tinha nos
ensinado. Como curiosidade pouca é bobagem, fui perguntar o que tinha acontecido. Thiago contou que o rapaz queria ouvir mais ska. Paciência, meu filho, deixa o DJ fazer o que ele sabe, porque logo mais vem aí o Satelite Kingston.
Dito e feito. Pouco antes das três da manhã, a banda argentina surge no palco com a inconfundível batida ska. Tá vendo, japonês, reclamar pra quê?
Daniel Flores era o porta voz da banda, sempre conversando com a plateia e levantando a moral de São Paulo. Mui amigo!
Eles abriram o show com Dificultades com las chicas, seguida de Si no sabés, dejá e Plomo al hampa.
A vocalista Areceli só entra no palco na primeira música cantada da banda na noite. Animada, fala o tempo todo com a plateia (mesmo sendo um pouco dificil entender) e balança os braços no ritmo. Dá espaço aos músicos e posta-se do lado do bateirista Daniel Zaltzman nas músicas instrumentadas.
[Adendo: depois do contato com o hermano argentino no episódio da foto, pensei “ah, o cara não deve ser da banda. Deve ser algum rodie, como assim ele estaria por aí na balada, oferencendo favores a muchachas vaidosas?” Bom, a dúvida acabou quando a banda entrou no palco. O chico era nada menos que Alejandro Pribluda, um dos guitarristas, que também atacou de DJ na noite].
Alejandro (truta) e Milton (marido)
Esse foi só mais um ponto a favor dos caras. Som, animação e simpatia nota mil para toda a banda. A energia do Inferno ficou lá em cima a cada acorde detonado. Nem os gritos de “Pelé” e “toca Raul” abalaram. Flores pergunta se gostamos de Buenos Aires. “Sí”, todos respondem. “Pois nós gostamos de São Paulo mais”.
Ah, conquistou!
Gonzalo Santos se aproxima e mostra seus dotes musicais. Na minha cara. Sim, estava no gargarejo, e ele descarregou os dedos na guitarra, agachado no palco, para delírio da galera.
O baixista Milton Alonso era mais contido, mas não perdia no quesito viagem interna na própria música. Balançava no ritmo de seu baixo. Balançou o coração da moça do blog também, devo confessar.
Gonzalo humilhando
A banda se despede de São Paulo, e a gente fica aqui querendo saber quando será o retorno. É mais uma banda que conquista mais uma fã.
Acabada a atração, acabou também a pilha. O cansaço bateu e não fiquei a tempo de ouvir o samba rock fechando a noite, se é que rolou.
[Agradecimentos especiais a Gustavo Moreira pelas fotos!]